* Por Stella Kochen Susskind
A data 15 de outubro foi instituída pelo Ministério do Meio
Ambiente, em 2009, como o Dia do Consumo Consciente. A proposta inicial era
sensibilizar os consumidores brasileiros sobre a responsabilidade de reduzir o
uso de recursos naturais e materiais tóxicos, diminuir a produção do lixo e das
emissões de poluentes – de acordo com o preconizado pela Organização Nacional
das Nações Unidas (ONU).
Dezenove anos depois, a Shopper Experience conduziu
uma pesquisa para saber qual é a percepção do brasileiro sobre as
responsabilidades associadas ao consumo consciente. Quem é o principal
responsável pelo consumo consciente no Brasil: governo, empresas ou o próprio
cidadão?
Com essa pergunta como ponto de partida, a ampla pesquisa
contou com 1.520 clientes secretos – homens e mulheres, das classes A, B e C,
de 21 anos a 65 anos, residentes nas cidades de São Paulo, Rio de Janeiro,
Recife e Curitiba.
Ao contrário do que pode-se pensar, o estudo Consumo
Consciente apontou que 63,55% dos consumidores brasileiros acreditam que o
próprio consumidor é responsável por atitudes responsáveis com relação ao
consumo. Na segunda posição do ranking, figura o governo (57,17%), seguido por
empresas brasileiras (45,99%); empresas multinacionais (45,33%); organizações
internacionais (36,51%); ONGs (36,18%); países ricos (32,04%); e países pobres
(28,09%).
Como especialista em consumo, posso dizer que o consumidor
está mais consciente. Acredito que haja uma evolução no comportamento em todas
as classes sociais. Mas ainda há espaço para potencializarmos esse avanço em
direção a um novo patamar de consumo. Há alguns anos intensificou-se o amplo
debate acerca do impacto da ação humana sobre os recursos naturais – e, nesse
processo, teve início o debate sobre as responsabilidades individuais,
corporativas e coletivas.
A obsolescência de produtos, aquisição de alimentos
orgânicos e adequação de processos de produção que privilegiem a economia de
água e energia elétrica passaram a ser uma preocupação de cidadãos de
diferentes vertentes, que se converteram em eco-friendly. Nesse contexto, o
conceito de consumo consciente surgiu em forma de um movimento que tem impelido
o indivíduo a adotar práticas para minimizar o impacto ambiental do consumo.
O resultado da pesquisa – que mostra o quanto o consumidor
chamou para si a tarefa de ser agente do consumo consciente – é exatamente o
reflexo desse amplo debate; da divulgação do conceito. Além disso, a crise econômica
mundial trouxe a busca por uma vida sustentável – tendência que influenciou o
brasileiro.
O estudo mostra claramente que o consumidor brasileiro está
repensando valores e atitudes; reposicionando o modo de viver e avaliando o
impacto dos hábitos de consumo na saúde econômica e socioambiental do planeta.
O consumidor quer ter marcas e governos como parceiros nesse processo de
consolidação de um consumo mais consciente em toda a cadeia de produção. Mas,
cabe ressaltar que poucas marcas estão prontas para serem parceiras desse novo
consumidor.
Entre os destaques da pesquisa Consumo Consciente, ressalto
aspectos determinantes do “novo consumidor” brasileiro. Entre as práticas
individuais – iniciativas do cidadão –, mais associadas pelos consumidores ao consumo
consciente destacam-se o não desperdício de água (64,08%); reciclagem e
separação do lixo (60,79%); economia de energia elétrica (59,14%); comprar
produtos de empresas socialmente responsáveis (52,11%); evitar descarte de
alimentos (44,28%); comprar produtos orgânicos (42,76%); utilizar o transporte
público (41,05%); se utilizar carro, dividir com caronas (40,39%); trocar o
carro pela bicicleta (38,82%); e não consumir produtos testados em animais
(30%).
No âmbito social, as práticas mais associadas ao consumo
consciente individual são evitar comprar produtos de empresas envolvidas em
casos de exploração infantil e trabalho em locais inadequados (55,33%); doar
bens não utilizados para instituições de caridade (55%); realizar trabalho
voluntário (48,16%); participar de algum projeto social (45,79%); doar dinheiro
para instituições de caridade (18,29%); participar de petições e protestos nas
redes sociais (17,96%); e participar de manifestações nas ruas (11,71%).
No âmbito ambiental, as práticas individuais são utilização
de materiais recicláveis (59,80%); reciclagem de lixo (59,01%); adoção de
práticas de redução de resíduos poluentes (56,97%); programas e iniciativas de
redução do impacto ambiental (54,74%); utilizar papel reciclado/ecológico
(52,30%); investimento em inovações baseadas na sustentabilidade
(49,93%); manejo sustentável de insumos naturais (45%); e controle do material
consumido (42,11%).
Sobre a questão relativa a práticas ambientais de consumo
consciente associadas a empresas, o ranking é encabeçado por utilização de
materiais recicláveis e reciclagem de lixo, respectivamente 59,80% e 59,01%. Na
última posição, com 34,28%, está a não realização de testes de produtos em
animais.
No âmbito social, as
empresas que merecem destaque na opinião dos entrevistados são as que mantêm
patrocínio/apoio a projetos e causas sociais (51,12%); em segundo lugar no
ranking, com 50,66% está a educação do consumidor sobre práticas para um modo
de vida mais sustentável. Ações de disciplina para evitar qualquer tipo de
discriminação foram apontadas por 34,34% dos entrevistados como a principal
prática empresarial de consumo consciente.
Sou uma otimista nata – o que me leva a ler esses números
com imensa confiança no consumidor brasileiro. Confiança que me leva a crer que
faremos uma passagem consistente para um novo padrão de consumo. Estamos no
rumo certo e estaremos prontos para integrar uma nova sociedade de consumo.
Fonte: Stella Kochen Susskind é presidente da Shopper Experience
via Consumidor Moderno/UOL
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