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quinta-feira, 8 de janeiro de 2015

Constrangimento entra no topo das queixas de consumidores no Brasil

Discriminação sexual e racial lideram ranking de
reclamações em 2014 e ficam à frente das queixas
de produtos não entregues e cobranças indevidas

Constrangimento ao consumidor chegou ao terceiro lugar no ranking de reclamações à Defesa do Consumidor em 2014, só perdendo para produto não entregue e cobrança indevida. Foram mais de 2.000 queixas registradas relatando casos em que o cliente foi exposto pelo prestador de serviço a situações embaraçosas e até de explícito preconceito, como o sofrido pela dona de casa Aline Cristiane dos Santos Ferreira, de 35 anos. 

Acusada pela gerente da loja Kalunga de Bangu de ser cúmplice de uma menina detida pelo segurança por suspeita de furto, Aline pediu respeito e retratação, mas foi orientada, com ironia, a buscar seus direitos numa delegacia.

─ Só pode ter me tratado assim porque sou negra, pois além de mim, na loja, de negra só havia uma funcionária e a menina que era suspeita de furto. Fui diretamente à delegacia, mas disseram que não podiam fazer um boletim de ocorrência porque a agressão foi apenas verbal, e me orientaram ir ao fórum. No fórum me disseram que não iria dar em nada, porque seria minha palavra contra a dela, já que eu estava sozinha  relata Aline.

─ Cheguei em casa aos prantos, e meu marido voltou comigo à loja para que ela me pedisse desculpas. Procuramos a gerente e foi aí que descobrimos que era a própria quem havia me ofendido. Ela voltou a dizer que, se eu estivesse insatisfeita, que usasse o telefone para ligar para o 190. No fim ela estava certa, pois saiu impune. O pior é que isso não é um fato esporádico, já estou acostumada a ser seguida por segurança em lojas, entrar e não ser atendida.

AÇÕES CIVIL E ATÉ CRIMINAL

A Kalunga confirma que uma ocorrência de furto foi identificada na data da visita da consumidora. Mas diz que o fato não teve relação com a presença da cliente e, por isso, a empresa lamenta que ela tenha se sentido envolvida na situação. Afirma ainda que entrou em contato com a cliente e pediu desculpas pelo fato, reforçando que repudia preconceitos e trabalha para que situações como essa não voltem a ocorrer.

Aline diz que não sabe se houve alguma punição à gerente:

 Disseram-me que iam passar o caso à gerência regional. Mas tomei pânico, não consigo mais passar na porta da loja.

Num shopping chique da capital paulista, Vitor Martins também passou por um episódio de constrangimento e discriminação. Ao ir à loja da grife feminina Farm comprar uma blusa para uso próprio, foi ironizado pela vendedora.

 Constrangeu a mim e a meus amigos, porque a funcionária ficava rindo e perguntando se tinha certeza de que a blusa seria mesmo para mim. Finalmente, outra vendedora trouxe o item, foi supersimpática e profissional. Deixamos a loja indignados. No dia seguinte, para minha surpresa, a própria gerente da loja e o responsável pela área de marketing me ligaram se desculpando e afirmando que o episódio serviria como tema de discussão em reuniões internas do grupo, que diz repudiar qualquer tipo de preconceito.

A Farm ratifica que esse tipo de atitude não faz parte do que acredita, mas afirma que “infelizmente não tem controle sobre tudo”. Diz ainda que, além do contato com o cliente, houve uma conversa com a vendedora, e o fato serviu de exemplo para todas as lojas da rede, de algo que não deve ser feito.

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Janaina Alvarenga, advogada da Associação de Proteção e Assistência aos Direitos da Cidadania (Apadic), diz que recebe diversas denúncias de constrangimentos e que há situações, como as vividas por Aline e Martins, em que, além de uma ação cível, cabe processo criminal.

 Racismo e discriminação são crimes. A questão nesses casos é ter testemunhas. A dificuldade é que as pessoas não querem se envolver. Não que o depoimento de um familiar, de um amigo, não tenha valor, mas de uma pessoa estranha que tenha testemunhado o fato é sempre importante, e, quanto mais detalhes levar ao juiz, melhor. Mesmo assim, esses casos de constrangimento ainda são complexos  diz.

O caso da carioca Maria Coelho de Souza, de 80 anos, cliente da Leader Magazine, é um pouco diferente. Em novembro, ela fazia compras com a filha e a neta em uma filial da rede na Tijuca e, após a escolha de uma série de peças para presente, foi surpreendida no caixa com a recusa de pagamento com o cartão Visa-Leader.

 A caixa disse que meu cartão estava bloqueado, pois estava vencido. Ela me recomendou que voltasse ao SAC no dia seguinte e fizesse o pedido de um novo cartão. Reclamei, pois não recebi correspondência sobre a necessidade de renovação de um outro. Passei um grande constrangimento, porque, devido ao impasse, a fila cresceu muito, e as pessoas reclamavam de mim. Constrangida, deixei a loja e voltei no dia seguinte ao SAC. E fui informada de que não poderia mais ter um cartão da Leader, mas ninguém me disse o motivo. Isso é um absurdo, nunca atrasei o pagamento das faturas e nunca tive qualquer dívida com a loja  desabafa.

A varejista disse que “lamenta os possíveis aborrecimentos” e que avalia o ocorrido, “pois a questão apresentada não corresponde à politica de atendimento ao consumidor da empresa. Informa ainda que já levantou o histórico da cliente e entrará em contato para esclarecer eventuais mal entendidos.”

REGISTRO EM LIVRO DE RECLAMAÇÃO

Advogada do escritório Siqueira Castro, Djenane Cabral Leite observa que episódios de constrangimento do consumidor são bastante comuns no Brasil, embora de conceituação às vezes subjetiva, mesmo na Justiça.

 A questão preocupa. O Código de Defesa do Consumidor (CDC), nos artigos 42 e 71, prevê alguns princípios e hipóteses que servem para orientar consumidores e a própria Justiça.

A advogada cita como exemplos de constrangimento que acontecem no cotidiano das relações de consumo o bloqueio de clientes nas portas eletrônicas de bancos, a não retirada imediata do nome do consumidor inadimplente da lista de Serasa e SPC após a quitação do débito e a negativa de crédito sem justificativa por escrito.

─ Esses são alguns casos em que a legislação prevê a constituição de ação na Justiça exigindo compensação por dano moral, por dano material e até a combinação de ambos.

Janaina orienta o consumidor a registrar o caso no livro de reclamações, que agora é obrigatório no Estado do Rio.

 Assim já sai com um registro, e a empresa é obrigada a notificar o Procon estadual sobre o caso e um inquérito administrativo pode ser aberto e pode até fortalecer o processo civil.

Fonte: O Globo

Inflação devora o prato preferido dos brasileiros: nem o arroz e o feijão escaparam da alta de preços

Essenciais na mesa dos brasileiros, o arroz e o feijão vão
pressionar a inflação ao consumidor em janeiro, em
função da safra mais fraca. Foto: João Laet/Ag. O Dia

O prato preferido dos brasileiros ficou mais caro neste início de ano. Enquanto o preço da carne bovina continua a subir, desta vez o arroz e o feijão também registraram alta. A saída agora é inovar nas receitas e tentar substituir os alimentos mais básicos da mesa por equivalentes mais baratos.

Após um longo período de preços comportados, o feijão e o arroz registraram elevação de 11,99% e 2,22%, respectivamente, no Índice de Preços por Atacado (IPA) de dezembro. Já os bovinos mantiveram a alta - que no acumulado de 12 meses os preços aumentaram 25% - e apontaram para avanço de 3,59% no mês. Tais itens registraram aumentos também no Índice de Preços ao Consumidor (IPC) de dezembro. 

As carnes bovinas subiram 4,38%, o feijão 13,01% e o arroz 0,79%.
Segundo André Braz, economista do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV/Ibre), o arroz e o feijão vão aparecer como pontos de pressão na inflação ao consumidor em janeiro por questões de safra.

 “Ainda que oportunas, não se sabe ao certo até que ponto as chuvas no sertão da Bahia podem ter começado a atrapalhar a colheita do feijão, por exemplo”, aponta. Para driblar os aumentos, a técnica de enfermagem Sônia de Souza, 60 anos, conta que precisará substituir alguns alimentos. “Fui ao mercado comprar um quilo de carne e saí com dois bifinhos. Está muito caro, vou comprar ovos e linguiça da próxima vez. Já o arroz e o feijão, eu vou trocar por macarrão ou polenta”, diz ela.

Consultor de varejo do Grupo AZO, Marco Quintarelli sugere que o consumidor aposte na variedade. “Quando se fala em arroz e feijão, é o básico do básico, por isso é difícil substituir. A lentilha, por exemplo, mesmo sem aumento é mais cara que o feijão. Mas existem outros alimentos, como o macarrão. No caso da carne bovina, a opção é o ovo, que tem grande valor nutricional, ou até mesmo a carne suína ou o frango, que continuam mais baratos”, avalia. 

Os hortifrutigranjeiros, especialmente a batata-inglesa, também devem continuar pressionando o bolso do consumidor em janeiro. Na última semana de dezembro, o Índice de Preços ao Consumidor Semanal (IPC-S) apontou para uma variação de 19,44% do produto. Já no IPA, a alta foi de 41,43%. No Rio de Janeiro, técnicos da Ceasa (Central de Abastecimento) identificaram forte aumento no preço da batata já no segundo dia útil deste mês, assim como o tomate, que deve apontar alta nos preços em função de chuva de granizo em algumas regiões.

Carne nunca esteve tão valorizada 

Para André Braz (FGV/Ibre), além da estiagem que reduziu pastos e afetou a produção de gado, a expansão das exportações brasileiras de carne bovina, especialmente para a Rússia, vem contribuindo para que o produto no mercado interno tenha preços mais elevados, o que deve se manter nos próximos meses.

Segundo o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), a carne bovina nunca esteve tão valorizada no mercado brasileiro. A média mensal da carcaça casada de boi atingiu, em dezembro, o maior valor em termos reais, de R$ 9,04/kg no atacado da Grande São Paulo. 
Marco Quintarelli acrescenta que a alta do dólar também contribuiu para o aumento no preço da carne. “É mais vantajoso para os pecuaristas exportar do que vender no mercado interno”, diz.

Fonte: Jornal O DIA